O estudo da extinção começou com Pavlov (1927) ao verificar que a resposta condicionada (salivação) diminuía e eventualmente se extinguia após várias apresentações do estímulo condicionado (campainha) na ausência do estímulo incondicionado (comida), sendo que o estímulo condicionado voltava a ser neutro. Podemos definir a extinção da seguinte forma: o decréscimo e desaparecimento da resposta condicionada resultante de apresentações não reforçadas do estímulo condicionado (Myers & Davis, 2002).
As primeiras teorias explicativas da extinção, propostas por Wagner e Rescorla (1972), indicam que se trata de um processo de “desaprendizagem”. Segundo os autores a associação entre o estímulo condicionado (EC) e o estímulo incondicionado (EI) é progressivamente enfraquecida no decorrer do treino de extinção, até que o estímulo condicionado perde a capacidade de produzir uma resposta condicionada (Myers & Davis 2002). Embora esta teoria seja bastante intuitiva, estudos efetuados após o processo de extinção demonstram que a resposta extinguida pode ser facilmente recuperada. Um dos fenómenos que sugere que a associação entre o EC e EI não é totalmente perdida é “o efeito de renovação” (Bouton 2004) no qual uma mudança de contexto após a extinção pode provocar uma recuperação imediata da resposta condicionada. Outro dos fenómenos que descredibiliza a teoria da “desaprendizagem” é a “recuperação espontânea” no qual se da uma recuperação da resposta condicionada em função do tempo que passou desde o treino de extinção (Myers & Davis, 2002). Ambos os fenómenos sugerem que a “extinção” se trata de uma “nova aprendizagem” que cria uma segunda associação entre o EC e o EI, inibindo a associação original sem a apagar (Bouton, 2004).
A utilização da extinção com fins terapêuticos tem sido aplicada com bastante sucesso no âmbito das fobias. Segundo Mowrer (1939) uma fobia é criada quando um estímulo neutro (EC) é repetidamente associado a um estímulo que produza dor ou medo (EI). A tendência de evitar o estímulo condicionado permite que a associação se mantenha forte, dando lugar a fobias a estímulos não ameaçadores (no presente). A terapia de exposição expõe o paciente repetidamente ao objeto que provoca medo na ausência das consequências que o próprio prevê (treino de extinção). Essencialmente observa-se uma extinção da associação entre o EC e o EI tornando o primeiro novamente neutro (Hoffman, 2008). No caso de fobias específicas apenas uma sessão de exposição pode ter resultados terapêuticos significativos, eliminando a fobia eficazmente (Zlomke & Davis, 2008; Ollendick & Davis, 2013). Quando o estímulo eversivo não pode ser apresentado ao vivo a realidade virtual (RV) oferece uma alternativa com resultados positivos no tratamento das fobias. O stress pós-traumático devido a acontecimentos de guerra ou terrorismo, embora seja das perturbações de ansiedade mais difíceis de tratar, é abordado com algum sucesso dentro de uma perspetiva de terapia de exposição com ambientes de RV, incluindo: Vietnam Virtual, Iraque Virtual e Torres Gémeas Virtual (Rothbaum et al, 2010).
O sucesso da terapia de exposição no tratamento das fobias inspirou investigação no âmbito das perturbações de uso de substâncias. Existem paralelos entre as duas perturbações em relação às associações que são feitas entre o EC e o EI. Um avião, que á partida é um estímulo neutro, pode ser associado ao sentimento de medo numa situação especifica, produzindo medo quando apresentado isoladamente no futuro (Schindler et al, 2015). Da mesma forma um bar (Lee et al, 2007) ou um isqueiro (Lee et al 2004), tornam-se estímulos condicionados quando associados repetidamente á sensação química do álcool ou tabaco, produzindo uma resposta condicionada mesmo quando apresentados sem a presença do químico.
A ‘cue exposure therapy ‘ (CET) é uma terapia de exposição direcionada para o tratamento de transtornos de substâncias. Esta terapia assume a mesma premissa presente em todas as terapias de exposição: que a exposição repetida ao estímulo condicionado (smoking cue) sem o reênforço da substância resultará na diminuição da resposta condicionada (craving) através da aprendizagem por extinção (Park et al, 2014).
Sofá do Psicólogo
Hugo Zagalo
Comments